TUBA
CITY, Arizona - Linda Smith perdeu um filho, viciado em
meta-anfetamina, quando ele se enforcou na cadeia. Seus outros filhos
são alcoólatras, de um pai que, segundo ela, quase a matou certa noite,
num acesso de fúria.
Isso
fez com que ela saísse de casa e fosse para este canto da reserva
navajo de Provo, em Utah, onde encontrou consolo da Igreja Mórmon.
A
narrativa de Smith ecoa um tema cada vez mais comum nesta reserva, onde
o desemprego é galopante, a violência doméstica é comum e o álcool
costuma ser usado como antídoto contra mágoas e dificuldades.
Em meio a essa situação, um crescente número de navajos está aderindo à mormonismo.
O
número de adeptos na Estaca Tuba City, unidade mórmon que abrange 240
km de terras navajas e hopis, aumentou 25% desde 2008. Em comparação,
outras igrejas ao seu redor passam por dificuldades.
Para
atrair seguidores, Larry Justice, homem branco que é o presidente da
Estaca Tuba City, criou um programa de jardinagem para ensinar as
pessoas a viverem da terra.
Ele
e um punhado de voluntários ensinam técnicas de cultivo, distribuindo
sementes em um terreno atrás da sede da igreja. O programa começou há
quatro anos com 25 hortas, cada uma plantada por navajos ao lado das
suas casas.
Hoje
esse número cresceu para 1.800, segundo Justice. "Os avós deles sabiam
lavrar", disse. "Seus pais esqueceram. Estamos trabalhando para garantir
que os jovens aprendam."
A
igreja Mórmon está se expandindo em um ritmo constante, primariamente
em partes da Ásia e da América Latina, onde Justice diz ter planos para
lançar seu programa de cultivo para povos nativos.
A igreja tinha 3 milhões de fiéis em 1971. Hoje são 15 milhões, segundo estatísticas da igreja.
Como
contam os convertidos aqui da reserva, virar mórmon os aproximou dos
valores navajos fundamentais, como caridade, camaradagem e respeito pela
terra. Há uma sensação de "reconexão com as tradições", como explicou
em idioma navajo, com auxílio de um intérprete, a mórmon Nora Kaibetoney
-isso apesar de o mormonismo frequentemente obrigá-los a abandonar
rituais tradicionais, como as cerimônias dos curandeiros e a limpeza em
suadouros.
"Na
cultura navaja, as coisas mais importantes que temos são a vida e a
nossa família", disse Smith, 64, filha de um navajo que fazia
comunicação militar em código e praticava um método tradicional de
diagnósticos. Ela foi batizada como mórmon no colégio.
A
conversão, disse ela, "não tinha a ver com rejeitar [a cultura navaja] e
abraçar uma tradição inteiramente diferente; tinha a ver com se
reconectar".
No
Oeste dos EUA, para onde os mórmons migraram fugindo de uma perseguição
no século 19, eles e os navajos trabalharam juntos na terra e também
brigaram por ela.
O
que diferenciou os mórmons de outros grupos missionários foi o papel
que aqueles, em suas escrituras sagradas, atribuíram aos indígenas
americanos como descendentes dos lamanitas -rebeldes incréus cuja
conversão ajudaria os mórmons a construir o reino de Deus na terra.
A
conexão é uma das maneiras pelas quais a igreja atrai pessoas como
Wayne Smith, com quem Linda Smith se casou no ano passado na igreja.
Wayne,
52, está entre dezenas de milhares de indígenas americanos, a maioria
navajos, que viveram na infância em um lar mórmon fora da sua reserva,
como parte de um polêmico programa apresentado como uma maneira de
propiciar uma boa educação às crianças -mas que as retirava de sua
cultura nativa.
Ele
conta que o programa melhorou sua autoestima. "Lá estava um grupo de
pessoas de fora me dizendo que eu não era só alguém que era pobre",
disse ele, "que eu tinha um grande patrimônio, que eu tenho potencial".
Justice
e os missionários que viajam por estradas de terra nesta região estão
trabalhando para difundir essa mensagem. "O negócio com a gente", disse
Justice, referindo-se ao seu rebanho, "é que cuidamos uns dos outros".
FONTE: osmormons.com
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